Ilustração de Luís Manuel Gaspar para o poema «Poço» de Fernanda de Castro 'prelo', 3.ª série, n.º 2, lisboa, incm, maio-ago. 2006 |
Velho poço de água velha,
que não reflecte nem espelha luz de olhar,
brilho de estrela.
Toalha verde e amarela
de folhas apodrecidas,
avencas, líquenes, fetos,
sob os quais pulula a Vida
em mim vida repartida:
bactérias, larvas, insectos.
Paredes viscosas, tortas,
paredes já sem idade
que segregam humidade
e cheiram a coisas mortas.
Vida e Morte confundidas.
Não há barreiras nem fosso,
nem fronteiras definidas
nas águas turvas do poço.
Fernanda de Castro