"Com uma carta amabilíssima, recebo um convite para me deslocar à inauguração de uma exposição sob o signo de Portugal Século XX, 50 Rostos para uma Identidade.
Pregam-me nas ventas a franginha da Beatriz Costa, afamada vedeta por chupar no burrié e outras marotices que fizeram época. Não fui estranho à iniciativa. Tiveram a gentileza de me chamar para um texto sobre Almada Negreiros, onde e não por acaso meti o António Ferro e as duas extraordinárias Senhoras que, ao lado de um e de outro, Sarah Afonso e Fernanda de Castro, decerto muito contribuíram para a grandeza da obra deles. Ora, e durante semanas temi tal disparate, o nome de António Ferro foi esquecido. Ou censurado. Ou achado detestável. Entre Dezembro de 1995 e Fevereiro de 1997, semana a semana, fui-me perguntando: será que vão esquecer este? aquele?
Mais escandalosa que a de Ferro e ainda mais inexplicável, é a ausência de Duarte Pacheco, tanto o Ministro das Obras Públicas como o Presidente do município lisboeta. Pensem o que quiserem, não me reconheço nessa pretensa identidade. E se os tais 50 rostos, nas espantadas serigráficas trombas que o Leonel Moura arranjou, eram escassos, porque não 59, 70? "
Luiz Pacheco
"Um homem dividido", em PRAZO DE VALIDADE, Contraponto, 1998.
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