Não te vejo de azul, Virgem Maria,
Hirta no andor, com vestes de cetim,
Cabelos de oiro, olhar de alegoria...
Perdão, Senhora, não te vejo assim
Não te vejo no altar, parada e fria,
Entre eflúvios de incenso e de jasmim
E aos pés anjinhos de oleografia....
Não és, Senhora, nunca foste assim
Não te vejo entre nuvens cor-de-rosa
Vejo-te, sim, humana e dolorosa,
Na terra, entre os mortais, os pecadores,
Pés em chaga na poeira dos caminhos,
Sangrando em cada dedo um anel de espinhos
E em cada passo a dor das sete dores.
Fernanda de Castro
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