quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Um mar inexistente

Eu sei onde nasci; naquela rua
de árvores mortas e de velhas casas
onde ensaiei os meus primeiros passos,
e onde as minhas pueris, tímidas asas,
se transformara simplesmente em braços.

Mas que importa? Sinto-me perdida
como alguém que em menino se perdeu
e sei que a minha vida é outra vida,
e sei que não sou eu, que não sou eu!


Que venho de mais longe… da distância
que medeia entre o sonho e a realidade,
que nunca teve pátria a minha infância,
que nunca teve idade a minha idade.


Que o meu país, se existe, é como a quilha
de um barco a demandar inutilmente
uma impossível, ignorada ilha
banhada por um mar inexistente.

E contudo eu nasci naquela rua
de árvores mortas e de velhas casas
onde ensaiei os meus primeiros passos,
e onde as minhas pueris, tímidas asas,
se transformaram simplesmente em braços.


Fernanda de Castro
Exílio

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