"Em Marvão não tem televisão nem telefonia. Na vila não se vendem jornais. Tudo o que se vai passando em Portugal aquele Verão de 1974 chega-lhe por carta, ou por jornais que lhe mandam. Sente-se desorientada e perplexa. Porém, os novos tempos não eram seguros, e tem que regressar a Lisboa nos finais de Outubro, porque a sua casa tinha sido assaltada. Também, se aquele incidente desagradável não tivesse acontecido, em breve voltaria a Lisboa, pois em Marvão, nos fins de Outubro, já era frio, sobretudo à tardinha e de noite. Por outro lado, a lareira que funcionava lindamente, agora, quando se acendia, parecia não ter tiragem, espalhando-se o fumo pela sala, de maneira que não se podia respirar.
Cansada de tanto escrever, tem um sonho, no qual o céu se fende, despejando torrentes de água. (...)"
Mário Casa Nova Martins
"Fernanda de Castro em Marvão"
Revista Plátano n.º 3, pp. 83-90
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