terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Esta Dor que me Faz Bem

As coisas falam comigo
uma linguagem secreta
que é minha, de mais ninguém.
Quem sente este cheiro antigo,
o cheiro da mala preta,
que era tua, minha mãe?


Este cheiro de além-vida
e de indizível tristeza,
do tempo morto, esquecido...
Tão desbotada e puída
aquela fita escocesa
que enfeitava o teu vestido.


Fala comigo e conversa,
na linguagem que eu entendo,
a tua velha gaveta,
a vida nela dispersa
chega à cama onde me estendo
num perfume de violeta.


Vejo as tuas jóias falsas
que usavas todos os dias,
do princípio ao fim do ano,
e ainda oiço as tuas valsas,
minha mãe, e as melodias
que cantavas ao piano.


Vejo brancos, decotados,
os teus sapatos de baile,
um broche em forma de lira,
saia aos folhos engomados
e sobre o vestido um xaile,
um xaile de Caxemira.


Quantas voltas deu na vida
este álbum de retratos,
de veludo cor de tília?
Gente outrora conhecida,
quem lhe deu tantos maus tratos?
Serão todos da família?


Ai, vou fechar na gaveta
a lembrança dolorosa
dos teus laços de cetim,
dos teus ramos de violeta,
do leque de seda rosa
com varetas de marfim.


As coisas falam comigo
numa linguagem secreta,
que é minha, de mais ninguém.
Quero esquecer, não consigo.
Vou guardar na mala preta
esta dor que me faz bem.


Fernanda de Castro 
em E Eu, Saudosa, Saudosa

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O encontro de António Rosado com Fernanda de Castro


António Quadros Ferro - Imediatamente antes de viajar até França, conviveu com Fernanda de Castro, para quem tocou piano em troca de umas aulas de Francês. Do que é que se lembra desses encontros?

António Rosado - Conheci Fernanda de Castro, de quem guardo uma memória luminosa pela estima que nutro: lembro-me de uma senhora superiormente inteligente com grande espírito e sempre agradável, apesar de acamada. De facto, fui muitas vezes conversar com ela em francês, a pedido de uma amiga, a Maria Luísa Garin que era simultaneamente amiga da minha professora de piano, Gilberta Paiva. Apesar de ter tido francês no liceu, foi importante para desenvolver a conversação e assim passávamos parte da tarde em conversas dos mais variados temas. Não poucas vezes ela perguntava-me pelos meus estudos e pedia-me amavelmente se queria tocar piano, umas vezes sozinha, outras com amigas que como sabe, passavam para beber um chá. Falava-se de música, do país, eventualmente de política e gostava de contar factos do seu passado. Enfim, como imagina, guardo as melhores recordações dessa época.

*Adaptação livre de uma conversa com António Rosado em Novembro de 2011

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António Rosado iniciou os seus estudos musicais aos três anos de idade com o pai. No Conservatório Nacional de Lisboa, na classe de Gilberta Paiva, formou-se com a classificação máxima. Aos dezasseis anos foi para Paris como bolseiro do Governo Francês, da Fundação Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura. Aí encontra Aldo Ciccolini de quem vem a ser discípulo no Conservatório Nacional Superior de Música e nos cursos de aperfeiçoamento em Siena e na Academia de Biella em Itália. Continue a ler aqui.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Rita Ferro sobre a avó Fernanda de Castro

"Foi a primeira mulher - entre três outras - a tirar a carta de condução em Portugal . Foi a primeira mulher a ganhar o prémio Ricardo Malheiros, da Academia de Ciências de Lisboa . Foi a primeira portuguesa a fundar um Teatro de Câmara. Foi a sócia número 68 da Associação Portuguesa de Escritores. Foi sócia número 1 da Sociedade Portuguesa de Autores. Foi Sócia de Honra do Círculo Eça de Queiroz . Foi autora de um livro de introdução à Botânica, ciência que sempre a fascinou, intitulado A Vida Maravilhosa das Plantas. Tinha uma das mais notáveis colecções de conchas e búzios, recolhidos por ela mesmo em África e na Ilha de Faro. Foi a mentora, fundadora e directora da Associação dos Parques Infantis . Como embaixatriz de Portugal em Berna e em Roma, são lembrados com saudade o seu requinte a receber, a sua paixão pela gastronomia e os seus apreciadíssimos dotes culinários. É autora de um livro de culinária intitulado Cem Receitas Sem Carne, sob o pseudónimo de Teresa Diniz, que atendia às dificuldades de abastecimento provocadas pela Guerra . Foi exímia executante de tapetes de Arraiolos . São conhecidos os seus bordados sobre seda e os seus quadros de flores e plantas naturais, que ela mesmo colhia, prensava e classificava . Foi co-proprietária com Mariana Avilez de um hotel de Cascais, o Solar D. Carlos . Foi fundadora e redactora da revista Bem Viver, que dirigiu durante os dois anos da sua publicação e funcionou como escola de gosto, defendendo o ambiente, a harmonia e o bem-estar em casa e na vida quotidiana. Organizou o I e II Festivais do Algarve, durante dois anos consecutivos, inaugurados no Castelo de Ofir, com um recital de poesia árabe e portuguesa, no qual tomaram parte dois príncipes marroquinos com os seus trajes de cerimónia . Organizou, em moldes inéditos, duas grandes festas populares no Jardim da Estrela, em Lisboa, durante a quadra dos santos populares, com enorme impacto junto do público. Participou na Semana de Arte Moderna, em S. Paulo Decorou os 40 primeiros apartamentos de Vilamoura, no Algarve . Publicou 14 livros de poesia, 5 romances (um deles adaptado a uma telenovela para a RTP), publicou 2 peças de teatro, 7 livros para crianças, 2 volumes de memórias, 1 livro de epístolas, 1 livro de introdução à Botânica, 1 livro de receitas, num total de 33 obras publicadas Traduziu 11 obras importantes . Editou 1 revista . Escreveu letras para cinema, canção e fado, argumentos para filmes e bailados . Editou 1 disco de canções infantis . Compôs música. Publicou centenas de artigos e crónicas, deu conferências e recitais no Continente e nas Ilhas, no Brasil, na Suiça, em Paris e em África. Os seus livros «Mariazinha em África» e novas «Aventuras de Mariazinha» fizeram as delícias de uma geração, mas depois foram considerados «colonialistas» . As suas Memórias, em dois volumes, foram best-sellers à epoca, e todos deveriam lê-las: é um testemunho precioso de um século que sofreu quatro guerras. Esteve acamada durante 13 anos, e recebia os amigos num quarto carregado de flores naturais e um piano, onde alguns músicos reconhecidos lhe deram a alegria de tocar para ela . Servia um chá às quintas-feiras, onde os amigos apareciam sem convite e se jogava Trivial Pursuit . Era competitiva: irritava-se quando não acertava. A Amália aparecia frequentemente. Escreveu 4 livros depois de adoecer, e ainda 1 romance de 400 páginas depois de cegar, ditando. Aos 92 anos, dois antes de morrer, enviou à TVI, então dirigida pelo Engº Roberto Carneiro, duas propostas suas para programas de TV. Detestava a política, mas foi amiga pessoal de Salazar e nunca hipotecou a sua honra, negando-o. Pagou, inteira e serena, o preço do esquecimento . Viu morrer o filho e duas netas sem verter uma lágrima - para que o seu desgosto não sobrecarregasse o nosso - e nem por uma vez a ouviram queixar-se. Durante a guerra, tanto ela como o meu avô arranjaram dezenas de passaportes para judeus foragidos, acolhendo alguns deles em casa. Tinha dois amigos íntimos: a Natália e o Ary. Em 74, cada um seguiu o seu caminho: o Ary seguiu para o PC e a Natália para o PPD. Durante muitos anos não a visitaram. Nunca os julgou. Um certo dia voltaram, desculpando-se, ao que ela respondeu «não tem importância, eu compreendo». Contrariaram a ordem natural das coisas partindo ambos antes dela. Sofreu pavorosamente não ter podido comparecer ao funeral de ambos, assim com ao de meu Pai. Lisboa tem um jardim com o seu nome."
Rita Ferro

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Fleuma

‎"Pensando na calma, na fleuma, no civismo dos Suíços, que por vezes toca as raias da mania, lembro-me agora duma frase da marquesa de Quintanar, que acabava de passar seis meses na Suíça, no sanatório, com a filha doente. De regresso a Madrid, ao descer do avião, explodiu:
- Caramba! Já se pode cuspir no chão!
E tirando da algibeira uns poucos papéis de rebuçados amarrotados, espalhou-os aos quatro ventos, num gesto vingativo que muito a aliviou."

Fernanda de Castro, “Ao Fim da Memória II 1939 – 1987”

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ao Fim da Memória

"Que surpresa boa, receber o seu livro de memórias! Ele foi leitura obrigatória nestas últimas noites, e ao acabar, fiquei com pena: queria que continuasse infinitamente..." 


Carlos Drummond de Andrade


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Cecília Meireles em Portugal


"O comboio Lisboa-Porto sairia muito cedo, era preciso estar na gare das sete. Deixar o doce convívio com os amigos de Lisboa, interromper aqueles dias felizes, e partir rumo ao Norte. Fernando decidira que deveriam passar duas semanas junto à família dele, no casarão da Penajóia.

[...] A despedida havia sido na véspera. Em casa de Fernanda de Castro. Sim, na volta a Lisboa, para as conferencia, gostaria de ter afinal um encontro com aquele poeta extraordinário que ainda não conseguira avistar: Fernando Pessoa. No Brasil, o marido lhe falara tanto sobre ele... E os poemas dele a que já conseguira ter acesso, publicados em algumas revistas portuguesas que recebiam em casa, haviam mostrado que Pessoa descobrira novos caminhos para a poesia.

[...]‘'Não podemos nos demorar muito mais, deixamos três crianças num colégio', avisara a Fernanda de Castro. Eram as filhas Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernanda, que, na ausência de parentes no Rio, haviam ficado em um Colégio de Copacabana. Contudo, a viagem de António Ferro à Itália e à Alemanha provocaria o adiamento das conferências para o segundo período da temporada em Lisboa. De facto, elas só puderam se realizar em Dezembro."

Leila V. B. Gouvêa
Cecília Em Portugal, Editora Iluminuras , 2001, p. 47.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

De Lêdo Ivo para Fernanda de Castro


Lêdo Ivo, Acontecimento do Soneto * Ode à Noite, 2. ed. Rio de Janeiro: Orfeu, 1951

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Onde o Homem não chega tudo é puro

Onde o Homem não chega tudo é puro,
dessa pureza da primeira infância.
Tudo é medida, ritmo, concordância,
tudo é claro e auroral: a noite, o escuro.


E nem o vendaval é dissonância
mas promessa de sol e de futuro.
Quem levantou esse primeiro Muro
que do perto fez longe, ergueu distância?


Foi o Homem, com suas mãos de barro,
com suas mãos perjuras, fel e sarro
de inútil sofrimento e vil prazer.


Não é tarde, porém: sacode a lama,
ergue o facho, levanta a Deus a chama
e recomeça: acabas de nascer

Fernanda de Castro

"Ronda das Horas Lentas"

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Homenagem a Fernanda de Castro dia 30 de Abril em Oeiras

O Centro Cultural de Oeiras (Cenco) , sente-se honrado e grato pela presença e colaboração da escritora Rita Ferro na sessão de Homenagem à Poeta Fernanda de Castro, no dia 30 de Abril próximo pelas 17h no Auditótio Municipal Cesar Batalha, em Oeiras, com a seguinte estrutura:

1ª parte
Homenagem à Poeta Fernanda de Castro com poemas ditos por alguns sócios do Centro, dentro das temáticas que nos pareceram mais salientes na sua poesia tais como:
Recordações da infância com os poemas :
“Reminiscência”
“Velho Jardim”

a) – O amor à vida , com os poemas:
“Serenidade”
“Amar”

b) – Mulher e Mãe, com os poemas:
“A mestra de lavores”
“Poema da Maternidade”
“O Nascimentro”

c) – Impressões sensoriais perante a vida na cidade e perante a beleza do campo e natureza com os poemas
“Domingo”
“Dia de Sol”
“Primavera-poema II “

d) – Africa –colagem de exertos (que nos pareceram mais em foco) do livro “Africa Raiz”
e) – Esperança e Fé – com os poemas;

“Os anos são degraus”
poema com que terminou o 2º volume de “Ao fim da Memória”

2ª Parte

A vida da Mulher extraordinária e maravilhosa que foi Fernanda de Castro, ao cuidado da sua neta , a escritora Rita Ferro

3ª Parte
Musica de Coimbra

terça-feira, 19 de abril de 2011

I Concurso Internacional de Contos e Poesia 2011 – Fernanda de Castro e Machado de Assis.

A Confraria Cultural Brasil-Portugal promove o I Concurso Internacional de Contos e Poesia 2011

I - Prémio e denominações

Contos – Prémio Machado de Assis
Poesia – Prémio Fernanda de Castro

II - Das Participações
Cada autor poderá participar nas categorias de conto ou poesia em obras de tema livre e inédito, com apenas (1) um trabalho em cada categoria. Sugere-se que cada trabalho não ultrapasse 3 (três) páginas. Os trabalhos deverão ser enviados até 15/05/2011. Os trabalhos deverão ser apresentados digitados, com pseudônimo, em espaço dois, digitados de um só lado do papel e tendo todas as páginas numeradas. Em envelope separado colocar breve currículo do autor incluindo nome, pseudônimo, categoria a que concorre, endereço completo e telefone para contato, bem como e-mail, se houver. Também aceitam-se trabalhos por e-mail (não mandar attached file) - coloque o trabalho no corpo da mensagem. Mande um e-mail só, com os trabalhos na seguinte ordem:
a) Dados pessoais completos (não esquecer CEP, DDD e telefone de contato);
b) Pequeno currículo.

III – Instruções para encaminhamento
Os trabalhos deverão ser enviados para:
I Concurso Internacional de Contos e Poesias da Confraria Cultural Brasil-Portugal
A/C: Escritora Fátima Quadros
Avenida Antônio Olímpio de Morais, 560/1001 - Centro
35500-005 – Divinópolis – Minas Gerais - Brasil
Telefone para contato: (037) 3221 8239 ou por e-mail: e-mail:mfatimaquadros@gmail.com

IV- Das Premiações
A Comissão Julgadora será composta por renomados escritores brasileiros e portugueses pertencentes e não aos quadros da instituição e suas decisões serão irrecorríveis. Os resultados serão divulgados até 30/05/2011.

Não poderá participar do concurso aquele que fizer parte da Comissão Julgadora.

O primeiro, segundo e terceiro colocado receberão diploma personalizado e medalha. Haverá ainda duas Menções Honrosas, constando de diplomas personalizados.

A entrega dos prémios será feita no dia 8 junho, por ocasião dos festejos do dia de Camões, na Biblioteca Ataliba Lago – Divinópolis – Minas Gerais - Brasil


e-mail: mfatimaquadros@gmail.com

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Carta de Delfim Santos para Fernanda de Castro, 3 Agosto de 1951

Delfim Santos e a Família Castro e Quadros Ferro
Edições Fundação António Quadros (2011)
"Li o livro [Raiz Funda] e facilmente nele verifiquei as virtudes que a crítica registou sem favor. Nada mais posso acrescentar de mais elogioso. No entanto, atrevo-me a confessar que é a poesia que melhor exprime o que de original, de novo, de comovente, constitui a raiz funda do maior poeta feminino do nosso tempo que V. Ex.ª continua sendo. E que o atrevimento mereça a desculpa da sinceridade!

Agradecendo com profunda admiração e simpatia,
Delfim Santos"

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quarta-feira, 30 de março de 2011

Katherine Mansfield: Diário (Tradução de Fernanda de Castro)

1944, Livraria Tavares Martins, colecção Contemporâneos, série B. Capa de Manuel Lapa.

Ilustração Portuguesa, nº 721, Dezembro de 1919


Ilustração Portuguesa, nº 721, Dezembro, 15, 1919 - 13 - 2ª página do Século Cómico, Nº 1145

"Em geral, as nossas poetisas masculinisam-se, perdendo o misterioso encanto da sua feminilidade. Poucas se salvam e sabem manter nos versos que fazem a fragilidade do seu sexo, convindo citar os nomes de Maria da Cunha, de Branca de Gonta Colaço e de Virginia Vitorino, como d'aquelas que mais notavelmente se conservam mulheres através da sua nobilissima arte. A seu lado e como companheira mais nova se encontra agora a autora d'este livro."

sexta-feira, 18 de março de 2011

Rita Ferro sobre a avó Fernanda de Castro

"O seu grande traço foi sempre a esperança, o optimismo. E, perante o pessimismo de tantos poetas e autores que, em lugar de estimular as pessoas, as acabrunham, investia nesse poder, nesse dever. Não era tão espontânea como parecia. As coisas, nela, obedeciam a um sentido. Era muito determinada na sua crença de restituir a esperança às pessoas, de levantar-lhes o moral, chamando-lhes a atenção para as graças que tinham à sua volta e que não dependiam do dinheiro. «Urgente», um dos seus livros de poesia mais modernos, foi escrito com essa intenção expressa. Urgente não é o dinheiro nem a tecnologia, mas a esperança, a confiança numa substância boa, no outro."

Rita Ferro, em entrevista ao Círculo de Leitores, disponível aqui.

terça-feira, 1 de março de 2011

Fernanda de Castro e Maria Ivone Vairinho (43 anos depois)

Fernanda de Castro (na assistência) e Maria Ivone Vairinho dizendo Poema da Maternidade. [1968]


Maria Ivone Vairinho [2011]

"Desde muito nova que gosto de Fernanda de Castro, da musicalidade, da perfeição do verso, da palavra depurada, que até o não parece ser dada a sua aparente simplicidade, e pela possibilidade de interpretação dos seus poemas.

Em 1968, tive a oportunidade de dizer perante Fernanda de Castro o seu "Poema da Maternidade". Foi no teatrinho da Casa do Pessoal da ex-Sacor, na Rua da Misericórdia, e ouvi emocionada as palavras de estímulo e felicitações que me dirigu."

Maria Ivone Vairinho aqui.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Diário de Lisboa, 9 de Outubro de 1923

António Ferro, chega do Brasil, deixa a Ilustração Portuguesa e regressa ao Diário de Lisboa. No dia 9 de Outubro de 1923, no nº 769 do Diário de Lisboa, escreve:

Homenagem a Fernanda de Castro

A Associação Portuguesa de Poetas, em colaboração com a Universidade Sénior de Oeiras, organiza hoje, entre as 16h00 e as 18h00, na Livraria Verney em Oeiras, uma homenagem a Fernanda de Castro. Mais informações aqui.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fernanda de Castro e David Mourão-Ferreira


Fernanda de Castro à janela da Villa Rosa Lima, no Alvor, propriedade do seu irmão Alberto, com David Mourão-Ferreira e um dos netos. (s/d)

Em Retrato de uma família: Fernanda de Castro, António Ferro, António Quadros, de Mafalda e Rita Ferro, Lisboa, Círculo de Leitores, 1999.

David de Jesus Mourão-Ferreira (1927-1996) foi um poeta e escritor português. Nasceu em Lisboa no dia 24 de Fevereiro de 1927 e morreu na mesma cidade a 16 de Junho de 1996. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1951, onde mais tarde, viria a ser professor. David Mourão-Ferreira escreveu para a revista Seara Nova, para o Diário Popular e foi com António Manuel Couto Viana, Ruy Cinatti, Fernanda Botelho e Alberto de Lacerda, um dos fundadores da Távola Redonda. Publicou entre outras obras A Secreta Viagem (1950); Lira de Bolso (1969); Cancioneiro de Natal (1971); Matura Idade (1973); Música de Cama (1994), etc.  

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Um grande amor, de Fernanda de Castro e Casimiro Ramos, por Teresa Silva Carvalho



"Um grande amor não cabe em nenhum verso,
como a vida não cabe num jardim,
como não cabe Deus no Universo
nem o meu coração dentro de mim.

A noite é mais pequena do que o luar,
e é mais vasto o perfume do que a flor.
É a onda mais alta do que o mar.
Não cabe em nenhum verso um grande amor.

Dizer em verso aquilo que se pensa,
ideia de poeta, ideia louca.
Não é bastante a frase mais extensa,
diz mais o beijo do que diz a boca.

Ninguém deve contar o seu segredo.
Versos de amor, só se os fizer assim:
como os pássaros cantam no arvoredo,
como as flores se beijam no jardim.

Que verso incomparável, infinito,
feito de sol, de misterioso brilho,
poderia dizer o que, num grito,
diz a mulher quando lhe nasce um filho?

E quando sobre nós desce a tristeza,
como desce a penumbra sobre o dia,
uma lágrima triste e sem beleza,
diz mais do que a palavra nua e fria.

Redondilha de amor... Para fazê-la,
desse-me Deus a tinta do luar,
a candeia suspensa de uma estrela
e o tinteiro vastíssimo do mar."

Fernanda de Castro